Xukuru Ororubá - Índios barbados, identidades hibridas.
Começa já com o nome "XUKURU ORORUBÁ". Você sabe o que é isso? Nem eu! Durante quinze minutos a diretora Marcilia Barros confronta os espectadores com imagens e textos que permanecem "estranhos". Filmado em P&B em Super -8 e DV (24fps), o estranhamento do título prossegue nas suas opções estéticas. São imagens de arquivo o que vemos no início do filme? (Não, não são. Mas era isso mesmo que ela pretendia evocar.)
E o estranhamento continua: Que índios são estes tais "Xukuru"? Eles não tem nada de bon sauvage, não evocam nenhuma fantasia romântica de pureza e harmonia.
Tão pouco são aqueles índios "estranhos" ou "diferentes" , "primitivos" ou "violentos", que aparecem regularmente na mídia. São índios de cocar, mas com imagens de Padre Cícero nas suas casas. Que dançam toré, encontram seus "encantados", mas falam uma linguagem altamente politizada. Linguagem de mundo globalizado. Falam de lutas, revezes e conquistas. Seria esta a aldeia global?
Logo no ínicio do filme a índia Zenilda, viúva do cacique Xikão , conta que, quando eles se casaram, "ela ainda não sabia que era índia". E ai começa a história que conta como os Xukuru vão resgatando, ou melhor, reconstruindo suas identidades. Os índios contam sobre perseguições e ameaças, sobre a violência dos posseiros, sobre os assassinatos. Mas eles contam também como a articulação política do Cacique Xikão e os empreendimentos do pajé Zequinha terminaram levando a demarcação e a posse de suas terras e também a um processo de reconstrução de sua identidades. O Cacique Xikão foi morto pelos posseiros, mas os Xukuru voltaram a ser índios. Talvez o mais correto seja dizer que se eles "tornaram-se" índios. Índios barbados, seres hibridos. Como o próprio nome Xikão (e Zenilda e Zequinha...).
Estes seres híbridos, distantes e desconhecidos - pelo menos pra mim, criada na cidade mais africana da diáspora negra - se, por um lado, não se encaixam nas categorias "comuns", nas imagens difundidas sobre "índios", sobre os "outros", por outro lado, eles são apresentados como pessoas como você e eu. Seres híbridos. Pessoas num coro pluralista que procuram construir um espaço onde eles/nós possam/possamos viver sua(s) identidade(s). Nada mais distante da minha vida do que índios, mas, assistindo "Xukuru Ororubá" percebi que tanto nos separa, quanto nos une. O índio sou eu.
A propósito: "Xukuru" todo mundo já entendeu o que é. "Ororubá" é o nome da serra onde eles vivem em Pernambuco". Xikão foi assassinado por posseiros, mas a nova geração assumiu o poder. Axé Xukuru!
Laura Bezerra, Salvador 26/7/2008
Xukuru Ororubá (BA 2008)
15 min, P&B, Super-8 e DV (24fps)
Direção e roteiro: Marcilia Barros
Xukuru Ororubá - Bearded Indians, hybrid identities.
ResponderEliminarIt starts with the name "XUKURU ORORUBÁ". Do you know what this is? Neither do I! For fifteen minutes, director Marcilia Barros confronts viewers with images and texts that remain "strange". Filmed in B&W in Super -8 and DV (24fps), the strangeness of the title continues in its aesthetic options. Is it archival footage that we see at the beginning of the film? (No, they're not. But that's exactly what she intended to evoke.)
.
And the strangeness continues: Which Indians are these "Xukuru"? They have nothing bon sauvage about them, they evoke no romantic fantasy of purity and harmony.
Neither are those "strange" or "different", "primitive" or "violent" Indians who regularly appear in the media. They are Indians wearing headdresses, but with images of Father Cícero in their homes. Those who dance toré find their "enchanted ones", but speak a highly politicized language. Language of a globalized world. They talk about struggles, setbacks and achievements. Could this be the global village?
Right at the beginning of the film, the Indian Zenilda, widow of chief Xikão, says that, when they got married, "she still didn't know she was Indian". And then begins the story that tells how the Xukuru are rescuing, or rather, rebuilding their identities. The Indians talk about persecutions and threats, about the violence of the squatters, about the murders. But they also tell how the political articulation of Cacique Xikão and the ventures of shaman Zequinha ended up leading to the demarcation and possession of their lands and also to a process of reconstruction of their identities. Chief Xikão was killed by the squatters, but the Xukuru returned to being Indians. Perhaps it would be more accurate to say that they "became" Indians. Bearded Indians, hybrid beings. Like the name Xikão itself (and Zenilda and Zequinha...).
These hybrid, distant and unknown beings - at least for me, raised in the most African city of the black diaspora - if, on the one hand, they do not fit into the "common" categories, into the widespread images about "Indians", about the "others" , on the other hand, they are presented as people like you and me. Hybrid beings. People in a pluralistic choir who seek to build a space where they/we can live their identity(ies). Nothing is more distant from my life than Indians, but, watching "Xukuru Ororubá" I realized that it both separates us and unites us. The Indian is me.
By the way: "Xukuru" everyone already understands what it is. "Ororubá" is the name of the mountain where they live in Pernambuco." Xikão was murdered by squatters, but the new generation took power. Axé Xukuru!
Laura Bezerra, Salvador 7/26/2008
Xukuru Ororubá (BA 2008)
15 min, B&W, Super-8 and DV (24fps)
Direction and script: Marcilia Barros